Educação para o Século XXI

Tradicionalmente as pessoas associam que a educação individual acontece naquele período em que você está frequentando os bancos escolares, desde o maternal até a pós-graduação, ou encerrando naquele momento em que você abandona os estudos, mas, normalmente, antes dos 30 anos de idade.

Nada mais falso ou, no mínimo, obsoleto, como nos relata YuvalNoahHarari, no seu excelente – 21 Lições para o século XXI;

“Desde os tempos imemoriais a vida foi dividida em duas partes complementares; um período de estudo seguido de um período de trabalho. Na primeira parte você acumulou informação, desenvolveu aptidões, formou uma visão do mundo e construiu uma identidade estável…Na segunda parte, confiou em suas habilidades acumuladas para percorrer o mundo, ganhar a vida e contribuir para a sociedade… Em meados do século XXI, mudanças aceleradas e vida mais longa tornarão o modelo tradicional obsoleto.“.

O APRENDIZADO, prefiro chamar assim, ocorre permanentemente e tem que ocorrer ao longo de toda a vida. SEMPRE!

Reunir estudantes em um mesmo local e dentro de um mesmo horário parece ser uma solução inspirada no modelo industrial onde o acesso e a quantidade de professores era escasso e a tecnologia de ensino-aprendizagem teria que ser certamente presencial.

O Conceito moderno, e que muda isso, é o de “Lifelong Learning” ou Aprendizado ao longo da vida inteira.

A expectativa de vida da população no mundo inteiro, após séculos de estagnação na faixa de 40 anos de idade, passou a crescer aceleradamente, dobrando nos últimos duzentos anos e continuando a crescer.

Isso significa que, cada vez mais, as pessoas não podem se conformar com o que aprenderam naqueles “poucos” anos de estudo. O que impede atualmente uma pessoa aos 50 anos estudar e entrar em uma nova profissão e exerce-la por muitos anos?Ou que alguém que abandonou os estudos aos 15 anos retorne e reforce sua formação?

Mas será crível o retorno dessas pessoas à sala de aula convencional? Conciliar o estudo com o trabalho? Encarar o deslocamento, o transito e os engarrafamentos?

AsTecnologias de Informação e Comunicação (TICs) já permitem e incentivam, cada vez mais, o trabalho e a Educação à Distância (EaD).

Depois de alguma desconfiança em relação àsua qualidade, a EaDganha rapidamente posição de destaque no mundo todo. Inicialmente pelas universidades e empresas, agora se expande rapidamente pelas plataformas educacionais, cursos livres, vídeos, games, Realidade Virtual e Aumentada, Inteligência Artificial e muitas outras técnicas, compondo um imenso bloco de Tecnologias Educacionais e transformando o ensino e o aprendizado em algo que não depende de local fixo (anyplace), nem de horário rígido (anytime) e nem de alinhamento com o conhecimento dos colegas (no seu próprio ritmo).

Para aqueles que duvidam da qualidade do aprendizado usando esses métodos modernos eu gosto de citar um exemplo interessante:

Talvez o melhor estudante/aprendiz em toda a história do Brasil tenha sido D. Pedro II. Além da sua curiosidade e inteligencia natas, ele dispunha dos melhores professores cobrindo qualquer assunto: podia estudar nos momentos que desejasse e no local em que estivesse; tinha acesso às informações mais atualizadas em todo o mundo. Lia Platão, trocava ideias com Pasteur e Victor Hugo; Ia em busca do conhecimento e das informações que desejasse, porém, poucos tinham condições como ele.

Mas agora, com a tecnologia disponível, essas condições podem estar disponíveis para todos e não apenas para os nobres. Aprender àqualquer momento e em qualquer lugar. Acessar qualquer informação super atualizada dos melhores autores. Estudar com materiais didáticos produzidos pelos melhores professores de Harvard, MIT ou Oxford.

Essa é a ideia com a EaD moderna!  Uma grande democratização no acesso ao conhecimento! As condições técnicas existem, faltam apenas as decisões políticas.

A ONU, no seu ODS 4 – Objetivo do Desenvolvimento Sustentável  para 2030 estabelece: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos

Objetivo impossível com os métodos convencionais de ensino/ aprendizagem.

Podemos estimar em cerca de 10 milhões os adultos com o Ensino Médio incompleto e em 25 milhões aqueles que completaram mas interromperam seus estudos. Somados aos milhões que abandonaram o Ensino Superior e mais de 40 milhões com o Fundamental incompleto, teremos mais de 80.000.000 (!) de brasileiros adultos que precisam de políticas de recuperação de evasão e retomada de estudos pela via à distância.

Precisamos acelerar esse processo de inclusão de Tecnologias no processo educacional. Mas não apenas em salas de aula e não apenas para jovens.Usar o potencial da internet para colocar o conhecimento à disposição dos “aprendentes” e mudar o papel dos professores, transformando-os em curadores de conteúdo e “cutucadores”, incentivando debates (presenciais ou remotos) e exemplos e não simplesmente discursando na frente das turmas.

Mas o problema não é apenas o de defasagem escolar. O mundo do trabalho e emprego também vem sofrendo mudanças aceleradas que precisam de soluções novas.

Domenico de Masi, no seu último livro – O MUNDO AINDA É JOVEM – diz:

“… Nos próximos 10 anos, vamos cada vez mais teleaprender, teleamar, nos teledivertir, teletrabalhar. Ou seja, faremos cada vez mais coisas que independem do tempo e, graças à nuvem, também do espaço.”

E, mais adiante – “… Como vimos, o progresso tecnológico e a produtividade crescem em velocidade exponencial. Mas o efeito conjunto da Lei de Moore, do reconhecimento de voz, das plataformas de software, da nanotecnologia, da robótica, da inteligência artificial comporta o que alguns chamam de joblessgrowth, ou seja, o crescimento sem emprego“.

Isso quer dizer que precisamos de formas novas de aprender e re-aprender para nos capacitarmos para os trabalhos que ainda nem existem, mas que precisarão de “mentes de obra“ preparadas para executa-los. Precisaremos de mais pessoas aprendendo criatividade, iniciativa, habilidades para pesquisar e identificar informações verdadeiras e relevantes, analise de processos e problemas, cooperação, e certamente, “ Aprender a aprender“.

Novamente, nas palavras de Yuval – “… as escolas deveriam passar a ensinar os quatro Cs – pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade.“

Em resumo, o tempo urge e não podemos abrir mão de um sistema de aprendizagem e formação de pessoas, aberto, variado, flexível, permanente e à distância de modo que as vantagens do Século XXI (SIM, ELAS EXISTEM E SERÃO MUITAS)  possam ser aproveitadas por todos, e atingindo, certamente, o ODS4 da ONU.

Paulo Barreira Milet
Sócio diretor da eschola.com e da INOVA EAD e Consultor em Gestão,
Programas de Qualidade e Educação a Distância, com mais de 35 anos
de experiência em educação à distância, Bacharel em Matemática
pela UnB (1975), Pós-Graduado em Administração Pública pela
FGV-Rio (1982/83). Mestrando em Engenharia de Sistemas pelo
COPPE/UFRJ (1976/77) – especialista em Gestão de TI; Consultoria em
Programas de gestão e Qualidade e Especialização;
e pioneirismo em Educação a Distância.